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domingo, 26 de outubro de 2014

Com as unhas que lhe restam mal feitas






... e com a maquiagem borrada da noite passada no rosto, ela ainda consegue se lembrar. Daquele seu sorriso mais grande e distante que o sol. Daquele teu olhar mais brilhante que a lua. Com o cabelo bagunçado e com o salto no lugar do seu velho all start, ela tenta entender que cresceu. Tenta mais não quer. Consegue ser tão ingênua a ponto de ainda querer encontrar a terra do nunca. Chegou ao ponto de não conseguir mais vestir as roupas da sua mãe, pois elas ficaram pequenas. Brincar de pega pega, ou pique esconde, não está mais na lista de coisas para se fazer sexta a noite com as amigas. Todas as suas bonecas estão perdidas no fundo do baú. Agora em cima da sua prateleira estão seus milhares de livros e revistas. Ela cresceu, sabe disso, mas não quer aceitar. Não quer aguentar mais tanta responsabilidade. Não quer sofrer por excesso de idade. Ela só queria continuar sendo a garotinha do papai e da mamãe, que tem medo da noite e não pode sair na rua. Proteção. É isso que se tem quando é pequena. A falta de liberdade falta de maldade te protege de tudo que pode machucar, te protege de dores que custam cicatrizar. Protegem-te de apelos, de idas e vindas, de desilusões. De falsos amores, falsos amigos, de alguns vilões. Ah sim… Com a maquiagem borrada e com as unhas mal pintadas, ela sente saudades daquela época. Da época que era feliz e não sabia.

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